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Reforma administrativa: quem ganha mais e quem ganha menos no serviço público?
Geral 22/09/2025 06:20 Fonte: Estadão Por: Estadão Relevância: 15

Reforma administrativa: quem ganha mais e quem ganha menos no serviço público?

BRASÍLIA - As maiores remunerações do serviço público estão concentradas no Poder Judiciário e no nível federal, enquanto as menores estão no Executivo e nos municípios, conforme dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Conforme o Estadão revelou, o Brasil deve gastar R$ 1,7 trilhão com servidores públicos em 2025, somando as despesas da União, Estados e municípios com funcionários da ativa e aposentados, enquanto discute uma reforma administrativa.

"Em termos de remuneração, a desigualdade está concentrada no Poder Judiciário. O Judiciário tem remunerações que são muito altas, mesmo entre os setores com menor remuneração", diz o pesquisador do Ipea e coordenador do Atlas do Estado Brasileiro, Felix Lopez.

Quando se olha para os três níveis da Federação, os salários no nível federal chegam a uma média de R$ 21 mil por mês no grupo que mais recebe, enquanto os servidores estaduais mais bem remunerados ganham em média R$ 11,9 mil e os maiores salários municipais são de R$ 6,7 mil. Os dados são de 2022, os últimos disponíveis.

O pesquisador observa que a maior parte dos funcionários públicos trabalha nos municípios, mas essas categorias são as que recebem os menores salários. A mediana de remuneração mensal no Executivo municipal -- que mede o "meio" entre as menores e as maiores remunerações -- é de R$ 2,6 mil por mês. Para se ter uma ideia, os grupos que menos recebem no Judiciário Federal e no Judiciário estadual já estão acima desse nível.

"A maior parte do funcionalismo está nos municípios, e eles têm uma mediana de remuneração significativamente menor do que o funcionalismo federal. Em termos de perfil, a diferença é muito grande. Não só de remuneração, mas também de escolaridade, seleção e recrutamento da burocracia dirigente."

Um levantamento conduzido pelos pesquisadores Wellington Nunes e José Teles com dados do Atlas do Ipea mostra as ocupações mais bem remuneradas no serviço público. O estudo leva em conta dados de 2018, os últimos disponíveis, segundo o Ipea.

Quando se olha sob esse parâmetro, quem lidera a lista são os procuradores do Judiciário estadual, com remunerações médias de R$ 40 mil por mês. Também integram o Top 10 procuradores, juízes e auditores da Receita Federal.

No outro extremo, estão os dez grupos de profissionais que recebem os menores salários. Um supervisor de crédito e cobrança no Executivo estadual ganha em média R$ 359 por mês. Um gestor em segurança de uma prefeitura recebe R$ 890. E um garçom que serve vinho no Executivo municipal tem um salário médio de R$ 1.040 por mês.

Os pesquisadores também apontam onde está a elite do funcionalismo público, aquela que recebe supersalários acima da remuneração de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

O grupo concentra-se no Ministério Público da União, em tribunais regionais e superiores do Judiciário, na Câmara dos Deputados, no Senado, no Tribunal de Contas da União (TCU) e no Ministério das Relações Exteriores.

A Câmara dos Deputados, por exemplo, respondia por 70% dos supersalários no Legislativo em 2018, quando foram levantados os dados mais recentes. No sistema de Justiça, o Ministério Público da União (MPU) respondia por 40,1% dos vínculos acima do limite constitucional. No Poder Executivo, 87,4% da elite estava empregada no Itamaraty.

A reforma administrativa, em discussão na Câmara, deve estabelecer uma tabela fixa de remuneração para todo o funcionalismo e limitar a criação de verbas que fazem nascer os supersalários.

"É preciso criar um limite crível e realista nas remunerações muito altas e criar um panorama em que se veja a disparidade das remunerações mais baixas e mais altas em toda a federação", diz Felix Lopez.

Ele chama a atenção, porém, para o problema de criar normas genéricas para todo o funcionalismo. "A maior parte do funcionalismo está nos municípios, mas usualmente as pessoas falam com a imagem do funcionalismo federal na cabeça", afirma.

"Tem municípios muito pobres, tem municípios muito mais ricos; então, criar regras gerais é uma receita de difícil implementação e às vezes até contraproducente."

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