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Reforma administrativa: Concursos avançam, mas Brasil falha em tecnologia e avaliação de servidores
Radio 06/10/2025 23:29 Fonte: Estadão Por: Estadão Relevância: 30

Reforma administrativa: Concursos avançam, mas Brasil falha em tecnologia e avaliação de servidores

BRASÍLIA -- O Brasil avançou com a adoção do Concurso Nacional Unificado (CNU) e de cotas para seleção de servidores públicos, mas está atrás de outros países quando o assunto é tecnologia das provas e avaliação do desempenho dos funcionários que passam nos processos seletivos.

"Em alguns caos, o Brasil está no topo, com a criação de cotas para minorias das mais variadas e a ideia de uma normatização que garanta que um concurso funcione todos os anos. Em outros aspectos, estamos muito atrasados, como as questões ligadas à tecnologia. Então, eu diria que estamos no meio da tabela", diz ao Estadão o autor do estudo.

O estudo destaca o CNU como uma experiência positiva por fazer seleções em grande escala, padronizar procedimentos, ampliar o acesso e assegurar maior impessoalidade e eficiência na ocupação dos cargos.

Por outro lado, há falta de regularidade e demora para a nomeação dos selecionados. No Brasil, os concursos dependem de demanda e orçamento e as contratações demoram mais que um ano. Não se sabe quando haverá novas seleções nos próximos anos e governos.

Em países como EUA, Singapura, África do Sul e Canadá, a oferta de concursos é constante, compara o estudo. Na Índia, China e Espanha, há seleções uma vez por ano. Com exceção da China, todos eles levam menos de um ano entre o lançamento do edital e a homologação dos selecionados.

O Brasil esbarra em obstáculos como a falta de tecnologia e conectividade em diferentes regiões, enquanto outros países fazem processos totalmente digitais e altamente seguros, e na alta judicialização, aponta a comparação.

No campo da tecnologia digital, Chile, Canadá, China e Singapura possuem sistemas altamente automatizados e realizam até etapas online. A Índia realiza o maior concurso público do mundo e ainda é líder no uso de tecnologia, com biometria, Inteligência Artificial e blockchain, garantindo integridade e redução de fraudes, segundo o documento.

O Chile, diz o estudo, é um exemplo de como fazer seleções rápidas em um modelo digitalizado. Em 2024, cerca de 90% dos concursos federais do país foram totalmente digitais, desde a inscrição até a aplicação de provas, e os processos geralmente menos de um ano até a contratação. O portal "Empleos Públicos" permite uso de inteligência artificial para filtrar perfis por critérios técnicos, como formação, experiência e adequação ao cargo.

A avaliação do trabalho dos servidores que passam nos concursos é apontada pelo pesquisador como um ponto em que o Brasil está atrasado na comparação com outros países.

Os modelos variam e incluem um sistema rígido chinês, em que a promoção a cargos de liderança depende tanto do desempenho administrativo quando do alinhamento político ao Partido Comunista Chinês.

O caso da Índia chamou mais a atenção do estudioso. A avaliação da população do país sobre o trabalho dos servidores no sistema bancário, por exemplo, é usada para ajustar o que será cobrado nos próximos concursos.

"Entrevistando colegas indianos, fiz essa pergunta: como eu faço para garantir que o servidor vai continuar motivado e trabalhando com afinco? Eles falaram: olha, para a gente é muito óbvio, se ele não fizer isso, ele não sai da base salarial, que não é das melhores", conta o pesquisador.

Brancoli observa que o debate tem obstáculos no Brasil, como a cobrança dos servidores por melhores condições de trabalho para serem avaliados de forma justa. Nesse caso, ele cita o exemplo dos chineses, que colocam indicadores e metas para os funcionários públicos e esses objetivos são usados para cobrar por melhorias no ambiente de trabalho.

"No Brasil, são poucos os espaços no governo federal onde essa avaliação é feita de maneira mais forte. É um jogo burocrático que não é dos mais simples, mas esse é um debate central para o funcionalismo público no Brasil", afirma o pesquisador.

Segundo o autor do estudo, a questão precisa ser enfrentada na reforma administrativa. "A valorização do funcionário e a criação de dispositivos gerais para avaliar o lugar que ele trabalha e o trabalho dele são coisas bastante factíveis de se fazer."

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