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Lula se diz aberto a negociar com Trump, mas frisa que 'democracia e soberania não estão na mesa'
Radio 14/09/2025 17:03 Fonte: O TEMPO Por: O TEMPO Relevância: 15

Lula se diz aberto a negociar com Trump, mas frisa que 'democracia e soberania não estão na mesa'

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou um artigo publicado pelo jornal The New York Times neste domingo (14/9) e enviou recados diretos ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. De acordo com Lula, a "falta de justificativa econômica" para a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros "deixa claro que a motivação da Casa Branca é política".
No texto, Lula disse que o Brasil está aberto a uma negociação diplomática e econômica para reduzir o impacto do tarifaço, mas destacou que a soberania e democracia estão fora de pauta. "Presidente Trump, continuamos abertos a negociar qualquer coisa que possa trazer benefícios mútuos. Mas a democracia e a soberania do Brasil não estão na mesa", declarou.
A decisão de escrever o artigo, de acordo com o presidente, foi "para estabelecer um diálogo aberto e franco" com Trump depois de examinar "cuidadosamente" os argumentos dos EUA. "Recuperar empregos americanos e reindustrializar são motivações legítimas. [...] Mas recorrer a ações unilaterais contra Estados individuais é prescrever o remédio errado", afirmou, destacando que "o multilateralismo oferece soluções mais justas e equilibradas".
Para Lula, o aumento das tarifas "não é apenas equivocado, mas também ilógico", já que os EUA não têm déficit comercial com o Brasil, não estão sujeitos a taxas altas e sofrem uma tarifa média de 2,7%. Além disso, segundo o presidente, quase 75% das exportações americanas entram no Brasil com isenção de impostos, sendo que oito dos dez principais itens têm tarifa zero, incluindo petróleo, aeronaves, gás natural e carvão.
"O governo americano está usando tarifas e a Lei Magnitsky para buscar impunidade para o ex-presidente Jair Bolsonaro, que orquestrou uma tentativa frustrada de golpe em 8 de janeiro de 2023, em um esforço para subverter a vontade popular expressa nas urnas", escreveu.
Na quinta-feira (11/9), a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) condenou o Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos e três meses de prisão por liderar uma tentativa de golpe de Estado em 2022. O julgamento é citado por Trump, desde julho, como uma "caça às bruxas" ao ex-presidente, e atribuído como motivo da sanção comercial.
Lula afirmou ter "orgulho" do STF por uma "decisão histórica [...] que salvaguarda nossas instituições e o Estado Democrático de Direito", e ressaltou que "não se tratou de uma 'caça às bruxas'", mas do resultado de procedimentos que seguiram a Constituição Brasileira, promulgada após a ditadura militar.
"Isso [julgamento] ocorreu após meses de investigações que revelaram planos para assassinar a mim, ao vice-presidente e a um ministro do Supremo Tribunal Federal. As autoridades também descobriram um projeto de decreto que teria efetivamente anulado os resultados das eleições de 2022", observou.
Lula ainda rebateu as acusações de que o STF censura empresas de tecnologia americanas. "Essas alegações são falsas. Todas as plataformas digitais, nacionais ou estrangeiras, estão sujeitas às mesmas leis no Brasil. É desonesto chamar regulamentação de censura, especialmente quando o que está em jogo é a proteção de nossas famílias contra fraudes, desinformação e discurso de ódio. A internet não pode ser uma terra de ilegalidade, onde pedófilos e abusadores têm liberdade para atacar nossas crianças e adolescentes", disse.
Na avaliação do presidente, são "infundadas" as alegações dos EUA de "práticas desleais do Brasil" no comércio digital e em sistema de pagamento como o Pix. "Não podemos ser penalizados por criar um mecanismo rápido, gratuito e seguro que facilita as transações e estimula a economia", frisou, apontando, em seguida, o impacto de ações ambientais no aumento da temperatura global que pode mudar padrões climáticos, inclusive, nos EUA.
"Quando os Estados Unidos dão as costas a um relacionamento de mais de 200 anos, como o que mantêm com o Brasil, todos perdem. Não há diferenças ideológicas que impeçam dois governos de trabalharem juntos em áreas onde têm objetivos comuns", cravou Lula.

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