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Governo Lula teme indicação de 'linha dura' Marco Rubio como negociador com os EUA; leia bastidores
Radio 06/10/2025 21:28 Fonte: Estadão Por: Estadão Relevância: 15

Governo Lula teme indicação de 'linha dura' Marco Rubio como negociador com os EUA; leia bastidores

BRASÍLIA - No meio da comemoração geral no governo brasileiro pela realização de um telefonema entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, um elemento gerou apreensão em Brasília: a indicação de Marco Rubio como interlocutor do lado americano.

Secretário de Estado americano e conselheiro de Segurança Nacional na Casa Branca, Marco Rubio é visto no governo Lula como um "linha dura" em temas relativos aos regimes de esquerda da América Latina.

Rubio fez uma delas, em 30 de julho, com o chanceler Mauro Vieira em Washington. Ele jamais a citou em público, embora Vieira tenha feito um relato contundente do teor.

Eles se conhecem há anos. O ministro serviu como embaixador na capital americana e depois viajou para lá como chanceler. Rubio era membro sênior da Comissão de Relações Exteriores no Senado.

Desde a conversa em julho, os dois mantiveram contatos privados, por meio de trocas de mensagens. Um dos prováveis próximos passos será nova reunião entre ambos, a fim de preparar o encontro presencial que Lula e Trump manifestaram desejo de fazer em breve.

Embora ainda não tenha sido marcada, não se descarta no Itamaraty que o ministro Mauro Vieira possa viajar antes aos EUA para uma reunião preparatória com Rubio.

Por enquanto, o chanceler tem na agenda ministerial apenas os deslocamentos ao exterior para acompanhar Lula em Roma (Itália), Jacarta (Indonésia) e Kuala Lumpur (Malásia). O cenário de uma reunião bilateral na Ásia é um dos mais cotados.

Trump indicou Rubio nesta segunda-feira como seu emissário para o Palácio do Planalto e o Itamaraty. Era um passo que faltava. A diplomacia brasileira se queixava de que Trump não havia ainda apontado nenhum de seus secretários ou assessores diretos como o reponsável por discutir a relação com o País e preparar uma reunião de trabalho entre presidentes. O diálogo estava dificultado.

Indagado sobre a escolha de Rubio, Alckmin disse apenas: "vamos em frente". Já o ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial da Lula, disse que a indicação "não preocupa".

Se em público conselheiros próximos do petista evitaram críticas e minimiram a preocupação, em privado integrantes do governo torcem o nariz para Rubio, dizem que ele tem uma "agenda retrógrada" e uma pauta "negativa" para a região.

Ele abrigou figuras do movimento MAGA (Make America Great Again) em postos-chave do Departamento de Estado. E, nos últimos meses, esteve na linha de frente das decisões de punição ao Brasil. Manteve semblante fechado ao reagir à revelação de Trump sobre a "excelente química" no encontro de 39 segundos com Lula nas Nações Unidas.

O governo também se aproximou do enviado especial de Trump para Missões Especiais, Richard Grenell, que viajou secretamente ao Rio de Janeiro, em 15 de setembro, para conversar a sós com Vieira, como revelou o Estadão.

Grenell é de outra ala da administração trumpista, e por vezes se choca com o grupo de Rubio no governo americano. Ele passou a ser criticado em Washington, acusado de "pegar leve", por exemplo, com o didator venezuelano Nicolás Maduro, com quem também abriu negociações a mando de Trump.

A conversa foi descontraída, segundo o vice-presidente. Para quebrar o gelo, Lula voltou a fazer menção à idade de ambos, como relatou em Nova York - "dois homens de 80 anos" - para dizer que não esperava bricandeiras, mas uma conversa séria e franca.

Segundo relato de Vieira a interlocutores, a conversa "fluiu muito bem" e o presidente colocou na mesa os temas principais, como o pedido para suspender o tarifaço e as sanções contra autoridades, sem que esperasse uma negociação ou decisão na hora. Trump não deu respostas conclusivas.

Vieira trabalhou nos bastidores após para que o encontro acontecesse. Desde que se encontrou com Rubio num escritório de advocacia em Washington, na Avenida Pensilvânia, o ministro manteve contato direto privado com o secretário de Estado por meio de mensagens. Em meio a divergências explícitas, ambos teriam concordado que precisvam preservar canais de relacionamento.

A chamada foi articulada nos últimos dias por Vieira, com novos contatos discretos. O telefonema partiu de Trump, conforme apurou o Estadão.

Na noite de domingo, os compromissos dos ministros para a manhã de segunda-feira começaram a ser oficialmente desmarcados, para que acompanhassem a chamada do Palácio da Alvorada.

Não se tratou de uma reunião virtual por meio de videoconferência, mas de uma diálogo apenas por voz. Do lado americano, somente Trump foi ouvido.

Em que pese as divergências políticas, os dois presidentes celebraram publicamente o tom amistoso do segundo contato e disseram que a pauta focou principalmente em temas econômicos e comerciais. Lula pediu a retirada do tarifaço e de sanções a ministros do Supremo e do Executivo.

Segundo integrantes do governo brasileiro, Trump não abordou a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro, nem processos judiciais que atingem negócios de big techs.

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