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25/09/2025 20:17
Fonte: Jornal da USP
Por: Jornal da USP
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Exposição histórica de 1994 é tema de evento no Centro MariAntonia
Seminário "O Brasil dos Viajantes: Trinta Anos" acontece entre 30 de setembro e 2 de outubro
Em 1994, a professora Ana Maria Belluzzo, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e de Design (FAU) da USP, reuniu registros produzidos por estrangeiros que visitaram o Brasil na época da Colônia e do Império. Ela foi a curadora da exposição O Brasil dos Viajantes, realizada naquele ano no Museu de Arte de São Paulo (Masp), em que foram exibidos vários desses registros - mapas, aquarelas, tapeçarias, pinturas e anotações religiosas, entre outros. Para relembrar essa mostra, que deixou marcas na arte contemporânea brasileira, o Grupo de Práticas e Estudos em Curadoria da FAU vai realizar, entre 30 de setembro e 2 de outubro, no Centro MariAntonia da USP, o seminário O Brasil dos Viajantes: Trinta Anos, com a participação de Ana Maria Belluzzo. A entrada é grátis, mediante inscrição.
Coordenado pelos professores da FAU Agnaldo Farias e Guilherme Wisnik, o seminário terá programação diversa, pensada para revisitar a exposição histórica de 1994. Nos três dias do evento, artistas, pesquisadores e curadores vão abordar os desdobramentos da mostra e os modos como o Brasil foi representado desde a época da Colônia. "Nada poderia ser mais gratificante para uma professora do que ter seu trabalho revisto e desdobrado 30 anos depois", afirma a professora Ana Maria Belluzzo, em entrevista à Rádio USP (ouça a entrevista no link abaixo).
Para a exposição de 1994, foram emprestadas 350 obras de 50 coleções particulares e institucionais - não só brasileiras -, produzidas por 93 artistas europeus que estiveram no País entre os séculos 16 e 19. A história do Brasil colonial está nesses registros, ainda que influenciados pela perspectiva eurocêntrica. Não somente as paisagens eram representadas, mas também a vida das pessoas e os costumes.
Doutorando da FAU e membro da equipe organizadora do seminário, Brunno Almeida Maia explica que a escolha dos participantes seguiu a intenção de estabelecer um "diálogo intergeracional", com uma pluralidade de visões e epistemologias que abarcassem a dificuldade que é a representação dos povos originários. As mesas de discussão não serão compostas só por acadêmicos, mas também por artistas que trabalham com as paisagens e representações brasileiras. "A complexidade do objeto exige também uma complexidade de interpretações", diz Maia. Além disso, o objetivo também é dar espaço aos pesquisadores que trabalharam com a professora Ana Maria Belluzzo nos anos 90. Na época, sua equipe era composta por jovens pesquisadores que faziam graduação, mestrado ou doutorado na FAU.
Maia destaca que a discussão sobre pós-colonialismo, na década de 90, não tinha tanta força. Por isso, ele define a exposição como "uma pesquisa de fôlego, mas também muito corajosa". "Fôlego" se refere à magnitude da mostra e à ambição de Belluzzo e da equipe de pesquisadores. O doutorando aponta que hoje existe um debate sobre a democratização do acesso aos espaços culturais, mas, de acordo com a própria professora, O Brasil dos Viajantes foi uma das primeiras exposições que levaram um grande público brasileiro ao museu.
Muitas das obras expostas em 1994 não pertenciam a coleções brasileiras. "Houve um trabalho curatorial e institucional, que envolveu embaixadas do Brasil em outros países, de negociação da vinda dessas obras, que estavam ligadas de algum modo à formação do Brasil." Algumas delas foram produzidas no próprio País e outras no exterior, mas com temáticas relacionadas à realidade brasileira. "É uma reunião de arquivo, partindo do século 16. São bem relevantes, nesse contexto, as missões holandesa e francesa."
"Penso que a exposição foi muito importante à época porque fez com que a sociedade refletisse sobre si mesma", continua Maia. "A arte cria condições para que a sociedade possa refletir sobre suas próprias condições políticas, econômicas, culturais e sociais."
Ainda de acordo com o doutorando, uma particularidade do seminário se refere ao rigor que os organizadores tiveram nas pesquisas sobre a exposição. "Desde o começo do ano, algumas discussões contaram com a presença da professora Ana Maria Belluzzo. Portanto, houve toda uma preparação antes que chegássemos à ideia do seminário."
Para Maia, o seminário vai trazer novas perspectivas para questionar o que são as "identidades brasileiras". "O objetivo não é encontrar uma resposta, mas justamente suscitar no público a reflexão, a inquietação e o incômodo constante para pensar como essa produção de imaginário reverbera nas disputas contemporâneas", diz.
Maia considera "um privilégio" ter no seminário a presença da professora Ana Maria Belluzzo. "Ela continua tendo uma participação muito ativa, não só na academia, mas também na vida pública como curadora. É uma pesquisadora muito atenta às questões do seu tempo."
Ouça no link abaixo entrevista da professora Ana Maria Belluzzo sobre o seminário O Brasil dos Viajantes: Trinta Anos, concedida ao boletim Dica Cultural, da Rádio USP, que foi ao ar no dia 15 de setembro de 2025. A produção e apresentação são da jornalista Heloisa Granito
O seminário segue dois eixos: as narrativas historiográficas e os imaginários insurgentes. A abertura será feita pelos coordenadores do evento, professores Agnaldo Farias e Guilherme Wisnik, da FAU, no dia 30, terça-feira, às 10 horas. Em seguida, a professora Ana Maria Belluzzo fará conferência.
A primeira mesa de discussão, Narrativas em Disputa: Um Olhar Crítico sobre O Brasil dos Viajantes, acontece às 14 horas do dia 30. Nela, serão abordadas questões sobre a exposição, com o objetivo de "contextualizar as escolhas iconográficas da época e articulá-las com problemáticas atuais", de acordo com o texto de apresentação do seminário. Vão participar das discussões o arquiteto e doutorando da FAU Omar Porto, o professor Douglas Canjani de Araújo, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, a arquiteta e diretora do instituto Hercule Florence Francis Melvin Lee, e o arquiteto e artista Leandro Leão.
A segunda mesa de discussão, Paisagens entre Memória, Conflito e Pertencimento, acontece às 16h30 do dia 30. A mesa propõe "pensar a paisagem como território simbólico, político e em disputa, tensionado por memórias e conflitos contemporâneos". Os convidados são: a professora Giselle Beiguelman, da FAU, Charlene Cabral, doutoranda da FAU, e as curadoras Luciara Ribeiro e Cristina Fernandes.
Já no dia 1º de outubro, quarta-feira, a terceira mesa acontece às 14 horas, com o título Imaginários em Expansão: Arte, Ciência e Técnica na Reinvenção da Paisagem. Os convidados Camila Alba, artista visual e mestre pela FAU, Daniele Queiroz, mestre pela FAU e curadora do Instituto Moreira Salles (IMS) e Val Souza, artista visual, irão propor ressignificações da paisagem como construção política e social, numa articulação de arte, ciência e tecnologia contemporâneas com os saberes tradicionais. É uma "ampliação do conceito de paisagem para além das leituras naturalistas, explorando modos plurais de habitar e de representar território".
Às 16h30 acontece a mesa 4, Imaginários Insurgentes: Reapropriações e Reescritas no Sistema da Arte. A discussão será sobre a forma como os artistas contra-hegemônicos reconfiguram as narrativas visuais do País. "São práticas que deslocam imagens herdadas do colonialismo e produzem novas camadas de memória, identidade e pertencimento." Os convidados são Ruth Cuiá Troncarelli Trumai, doutoranda da FAU, Lorraine Mendes, curadora da Pinacoteca de São Paulo, e Leticia Squeff, doutora pela FAU e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
No dia 2 de outubro, às 14 horas, a programação será aberta com a mesa 5, Outros Olhares, Outras Histórias. Nela, serão analisadas as lógicas coloniais nas imagens dos artistas viajantes. Haverá discussão sobre a possibilidade de novos olhares historiográficos e críticos reescreverem a história das representações. Será investigado como "as formas visuais de corpos e territórios foram produzidas e como podem ser reinterpretadas hoje". Estarão presentes: a pesquisadora Celeste Ribeiro de Sousa, do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, o artista Salloma Salomão Jovino e o doutorando Brunno Almeida Maia.
A conferência que fecha o evento, às 16h30 do dia 2, será dada pela professora e curadora Fernanda Pitta, do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP. Ela vai falar sobre Direito de Resposta e Imagens-Parente: Artistas Indígenas e a Iconografia. Será uma "reflexão sobre os modos como discursos indigenistas atravessam a história da arte no Brasil, problematizando representações, apagamentos e reelaborações".
Em 1994, a professora Ana Maria Belluzzo, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e de Design (FAU) da USP, reuniu registros produzidos por estrangeiros que visitaram o Brasil na época da Colônia e do Império. Ela foi a curadora da exposição O Brasil dos Viajantes, realizada naquele ano no Museu de Arte de São Paulo (Masp), em que foram exibidos vários desses registros - mapas, aquarelas, tapeçarias, pinturas e anotações religiosas, entre outros. Para relembrar essa mostra, que deixou marcas na arte contemporânea brasileira, o Grupo de Práticas e Estudos em Curadoria da FAU vai realizar, entre 30 de setembro e 2 de outubro, no Centro MariAntonia da USP, o seminário O Brasil dos Viajantes: Trinta Anos, com a participação de Ana Maria Belluzzo. A entrada é grátis, mediante inscrição.
Coordenado pelos professores da FAU Agnaldo Farias e Guilherme Wisnik, o seminário terá programação diversa, pensada para revisitar a exposição histórica de 1994. Nos três dias do evento, artistas, pesquisadores e curadores vão abordar os desdobramentos da mostra e os modos como o Brasil foi representado desde a época da Colônia. "Nada poderia ser mais gratificante para uma professora do que ter seu trabalho revisto e desdobrado 30 anos depois", afirma a professora Ana Maria Belluzzo, em entrevista à Rádio USP (ouça a entrevista no link abaixo).
Para a exposição de 1994, foram emprestadas 350 obras de 50 coleções particulares e institucionais - não só brasileiras -, produzidas por 93 artistas europeus que estiveram no País entre os séculos 16 e 19. A história do Brasil colonial está nesses registros, ainda que influenciados pela perspectiva eurocêntrica. Não somente as paisagens eram representadas, mas também a vida das pessoas e os costumes.
Doutorando da FAU e membro da equipe organizadora do seminário, Brunno Almeida Maia explica que a escolha dos participantes seguiu a intenção de estabelecer um "diálogo intergeracional", com uma pluralidade de visões e epistemologias que abarcassem a dificuldade que é a representação dos povos originários. As mesas de discussão não serão compostas só por acadêmicos, mas também por artistas que trabalham com as paisagens e representações brasileiras. "A complexidade do objeto exige também uma complexidade de interpretações", diz Maia. Além disso, o objetivo também é dar espaço aos pesquisadores que trabalharam com a professora Ana Maria Belluzzo nos anos 90. Na época, sua equipe era composta por jovens pesquisadores que faziam graduação, mestrado ou doutorado na FAU.
Maia destaca que a discussão sobre pós-colonialismo, na década de 90, não tinha tanta força. Por isso, ele define a exposição como "uma pesquisa de fôlego, mas também muito corajosa". "Fôlego" se refere à magnitude da mostra e à ambição de Belluzzo e da equipe de pesquisadores. O doutorando aponta que hoje existe um debate sobre a democratização do acesso aos espaços culturais, mas, de acordo com a própria professora, O Brasil dos Viajantes foi uma das primeiras exposições que levaram um grande público brasileiro ao museu.
Muitas das obras expostas em 1994 não pertenciam a coleções brasileiras. "Houve um trabalho curatorial e institucional, que envolveu embaixadas do Brasil em outros países, de negociação da vinda dessas obras, que estavam ligadas de algum modo à formação do Brasil." Algumas delas foram produzidas no próprio País e outras no exterior, mas com temáticas relacionadas à realidade brasileira. "É uma reunião de arquivo, partindo do século 16. São bem relevantes, nesse contexto, as missões holandesa e francesa."
"Penso que a exposição foi muito importante à época porque fez com que a sociedade refletisse sobre si mesma", continua Maia. "A arte cria condições para que a sociedade possa refletir sobre suas próprias condições políticas, econômicas, culturais e sociais."
Ainda de acordo com o doutorando, uma particularidade do seminário se refere ao rigor que os organizadores tiveram nas pesquisas sobre a exposição. "Desde o começo do ano, algumas discussões contaram com a presença da professora Ana Maria Belluzzo. Portanto, houve toda uma preparação antes que chegássemos à ideia do seminário."
Para Maia, o seminário vai trazer novas perspectivas para questionar o que são as "identidades brasileiras". "O objetivo não é encontrar uma resposta, mas justamente suscitar no público a reflexão, a inquietação e o incômodo constante para pensar como essa produção de imaginário reverbera nas disputas contemporâneas", diz.
Maia considera "um privilégio" ter no seminário a presença da professora Ana Maria Belluzzo. "Ela continua tendo uma participação muito ativa, não só na academia, mas também na vida pública como curadora. É uma pesquisadora muito atenta às questões do seu tempo."
Ouça no link abaixo entrevista da professora Ana Maria Belluzzo sobre o seminário O Brasil dos Viajantes: Trinta Anos, concedida ao boletim Dica Cultural, da Rádio USP, que foi ao ar no dia 15 de setembro de 2025. A produção e apresentação são da jornalista Heloisa Granito
O seminário segue dois eixos: as narrativas historiográficas e os imaginários insurgentes. A abertura será feita pelos coordenadores do evento, professores Agnaldo Farias e Guilherme Wisnik, da FAU, no dia 30, terça-feira, às 10 horas. Em seguida, a professora Ana Maria Belluzzo fará conferência.
A primeira mesa de discussão, Narrativas em Disputa: Um Olhar Crítico sobre O Brasil dos Viajantes, acontece às 14 horas do dia 30. Nela, serão abordadas questões sobre a exposição, com o objetivo de "contextualizar as escolhas iconográficas da época e articulá-las com problemáticas atuais", de acordo com o texto de apresentação do seminário. Vão participar das discussões o arquiteto e doutorando da FAU Omar Porto, o professor Douglas Canjani de Araújo, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, a arquiteta e diretora do instituto Hercule Florence Francis Melvin Lee, e o arquiteto e artista Leandro Leão.
A segunda mesa de discussão, Paisagens entre Memória, Conflito e Pertencimento, acontece às 16h30 do dia 30. A mesa propõe "pensar a paisagem como território simbólico, político e em disputa, tensionado por memórias e conflitos contemporâneos". Os convidados são: a professora Giselle Beiguelman, da FAU, Charlene Cabral, doutoranda da FAU, e as curadoras Luciara Ribeiro e Cristina Fernandes.
Já no dia 1º de outubro, quarta-feira, a terceira mesa acontece às 14 horas, com o título Imaginários em Expansão: Arte, Ciência e Técnica na Reinvenção da Paisagem. Os convidados Camila Alba, artista visual e mestre pela FAU, Daniele Queiroz, mestre pela FAU e curadora do Instituto Moreira Salles (IMS) e Val Souza, artista visual, irão propor ressignificações da paisagem como construção política e social, numa articulação de arte, ciência e tecnologia contemporâneas com os saberes tradicionais. É uma "ampliação do conceito de paisagem para além das leituras naturalistas, explorando modos plurais de habitar e de representar território".
Às 16h30 acontece a mesa 4, Imaginários Insurgentes: Reapropriações e Reescritas no Sistema da Arte. A discussão será sobre a forma como os artistas contra-hegemônicos reconfiguram as narrativas visuais do País. "São práticas que deslocam imagens herdadas do colonialismo e produzem novas camadas de memória, identidade e pertencimento." Os convidados são Ruth Cuiá Troncarelli Trumai, doutoranda da FAU, Lorraine Mendes, curadora da Pinacoteca de São Paulo, e Leticia Squeff, doutora pela FAU e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
No dia 2 de outubro, às 14 horas, a programação será aberta com a mesa 5, Outros Olhares, Outras Histórias. Nela, serão analisadas as lógicas coloniais nas imagens dos artistas viajantes. Haverá discussão sobre a possibilidade de novos olhares historiográficos e críticos reescreverem a história das representações. Será investigado como "as formas visuais de corpos e territórios foram produzidas e como podem ser reinterpretadas hoje". Estarão presentes: a pesquisadora Celeste Ribeiro de Sousa, do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, o artista Salloma Salomão Jovino e o doutorando Brunno Almeida Maia.
A conferência que fecha o evento, às 16h30 do dia 2, será dada pela professora e curadora Fernanda Pitta, do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP. Ela vai falar sobre Direito de Resposta e Imagens-Parente: Artistas Indígenas e a Iconografia. Será uma "reflexão sobre os modos como discursos indigenistas atravessam a história da arte no Brasil, problematizando representações, apagamentos e reelaborações".