Pular para o conteúdo principal
Acessibilidade é hall de entrada da Bienal Sesc de Dança
Entretenimento 01/10/2025 13:45 Fonte: globo.com Por: globo.com Relevância: 20

Acessibilidade é hall de entrada da Bienal Sesc de Dança

-- Foto: Sesc Campinas Praca Bento Quirino BIENAL DE DANCA Dandiysmo - Crédito: Rubens Tamashiro
Ana Beatriz de Lima Watanabe, de 31 anos, começou a dançar quando tinha três anos por influência da família. Ela é cadeirante e tem uma deficiência adquirida, mas nem por isso deixou de acreditar no poder transformador da dança. Bia, como é chamada, é formada em vários estilos de dança, como ballet, jazz, danças urbanas, dança contemporânea, sapateado, danças negras e dança em cadeira de rodas.
A dançarina fez parte da residência que apresenta o espetáculo Dandysm (Dandismo) na Bienal Sesc de Dança no Sesc Campinas e na capital São Paulo (Sesc Carmo, Campo Limpo e Itaquera). Bia dança magicamente na cadeira de rodas, abrindo caminho para seus gestos e incorporação da personagem.
-- Foto: Ana Beatriz de Lima Watanabe durante ensaio do espetáculo Dandismo - Crédito: Cindy Rocha
Durante os ensaios, Ziza Patrick, criador da obra original Dandyism, e Joanne Bernard, coreógrafa ensaiadora do espetáculo, mostram aos dançarinos que cada um pode achar o jeito próprio de se movimentar e se expressar através da dança. É um exercício que fica mais claro com a presença de um tradutor e os movimentos dos profissionais.
"Domingo o ensaio foi diferente, tivemos a primeira prova de figurino e estávamos em outro espaço (no Sesc Campinas). Foi um ótimo ensaio. Está sendo uma experiência maravilhosa! Os coreógrafos e toda a equipe são muito atenciosos e isso traz mais segurança", disse Bia.
As residências fizeram parte da programação preparatória do evento que convidou artistas e interessados em dança a participarem das criações que estarão em cena durante o festival. Eles foram selecionados através de um chamamento público e começaram a ensaiar no dia 16 de setembro.
Ziza Patrick é artista cênico multidisciplinar de origem ruandesa e radicado na Inglaterra, que cria obras que exploram os temas das tradições africanas e de normas culturais. Dandismo foi criado em parceria com o brasileiro Ricardo Januário, artista multidisciplinar, que aborda identidade, ancestralidade e empoderamento. Inclusive, Ricardo Januário fez uma imersão no mês de agosto no Reino Unido.
A produção da obra no Brasil é do Corpo Rastreado, com acompanhamento de Lud Picosque. Inspirado no movimento congolês La Sape, o trabalho transforma a moda em uma forma de resistência e liberdade, destacando a expressão individual por meio do estilo extravagante dos sapeurs e sapeuses, que reinterpretam o vestuário dos dândis europeus.
Ao lado de Bia, o seu marido Marcio Custódio de Oliveira, de 45 anos, também é parte do elenco de Dandismo, tocando berimbau e dançando. Ela comentou sobre essa experiência com ele.
"Está sendo uma nova descoberta porque apesar de já sermos parceiros de Dança, nesse trabalho nós pudemos explorar mais a nossa individualidade como dançarinos", detalha
"Acessibilidade é matéria-prima e mecanismo de cena", diz diretor de espetáculo
-- Foto: René Loui - Crédito: Bruno Martins
O espetáculo "Reino dos Bichos e dos Animais, Esse é o Meu Nome", dirigido por René Loui, cofundador e diretor artístico do Coletivo CIDA - Coletivo Independente Dependente de Artistas, será apresentado na Bienal Sesc de Dança. A obra é a segunda parte da trilogia "Tragédia em Dança" e se destaca por tratar a acessibilidade não como recurso técnico, mas como linguagem artística.
"Para mim, e acho que para todo o Coletivo CIDA, acessibilidade não é apêndice técnico. É matéria-prima. Ferramenta de criação. Mecanismo de cena. No Coletivo CIDA, e em todos os meus trabalhos, a acessibilidade opera como dispositivo dramatúrgico e coreográfico, um lugar de escuta e de composição que reorganiza tempo, espaço e relação com o público"
-- Foto: Reino dos Bichos e dos Animais - Crédito: Renato Mangolin
Segundo ele, no Coletivo CIDA, esses elementos não explicam a obra, mas a constituem. "Produzem ritmo, imagem e fricção", completa. O espetáculo é fruto de um processo colaborativo, onde todos os artistas em cena também foram criadores.
"É assim que chegamos à Bienal, para reforçar o que a bienal já está fazendo, uma prática em que acessibilidade e dissidência são linguagem, relação e responsabilidade ética compartilhada com o público (...) Audiodescrição poética e LIBRAS são caras estéticas do trabalho. Acessibilidade e inclusão pra nós são algo natural. Cada um de nós no coletivo já pesquisa (cada um a sua maneira) as diferenças", afirma René Loui.
Na prática, isso aparece desde o primeiro ensaio como escuta expandida que vira material vivo de composição, como partituras acessíveis que antecedem o palco, como camadas sensoriais integradas, Libras e audiodescrição tratadas como presença cênica.
"No meu percurso em Reino dos Bichos, assim como nas demais obras da trilogia em dança tragédia, ou nos demais trabalhos do Coletivo CIDA, como coreógrafo proponho a ideia de audiodescrição como partitura poética, não como texto sobreposto nas vésperas da estreia, mas como um corpo que coreografa junto dos intérpretes-criadores", revela René
Ele explica que trabalha com descrição situada e ela nasce do que a cena pede, do espaço em que acontece e das pessoas presentes. "Às vezes é mínima, às vezes explode em minuciosidades, em certos momentos silencia, para que som, vibração e alteridades falem primeiro, abrindo margem para ambiguidade", diz.
"A curadoria desenha um campo comum onde a acessibilidade não é porta lateral, e sim hall de entrada do evento", afirma René
A pesquisa de acessibilidade como dramaturgia se enraíza na trajetória de René, que começou na Ekilibrio Cia de Dança, referência em dança inclusiva em Juiz de Fora (MG), e passou por grupos como Giradança (RN), Dançando com a Diferença (Portugal) e Cie Autotrophe (Suíça).
A montagem reúne um núcleo diverso e intergeracional de artistas residentes em Natal (RN), como Jânia Santos, mulher preta com nanismo e figura recorrente na Bienal; Marconi Araujo, referência na dança em cadeira de rodas; Ana Cláudia Viana, com mais de 30 anos de carreira e pesquisa em dança, teatro e artes visuais; Pablo Vieira, artista LGBTQIAPN+ do interior do RN; e Rozeane Oliveira, mulher preta nascida em Olinda e uma das vozes femininas mais potentes da dança contemporânea potiguar.
A expectativa para a Bienal é alta. "Estou muito animado com o que ela pode produzir como encontro. Quero acompanhar as obras, as ações formativas, as conversas pós-sessão e também as festas. A curadoria desenha um campo comum onde a acessibilidade não é porta lateral, e sim hall de entrada do evento", conclui.
Quais são os espetáculos com recursos de acessibilidade na Bienal Sesc de Dança?
Veja aqui todas as apresentações da Bienal Sesc de Dança que contam com visitas táteis, Libras e audiodescrição.
Onde posso comprar ingressos da Bienal Sesc de Dança?
A 14ª edição da Bienal Sesc de Dança conta com atividades gratuitas e com valores a partir de R$ 12. Os ingressos estão disponíveis pelo site, app e nas unidades do Sesc SP.
Para mais informações sobre a 14ª Bienal Sesc de Dança, acesse o site sescsp.org.br/bienaldedanca.

Selecione uma estação

-